29
Set04
O suicídio etário
dizeresmeus
Aqui há uns tempos a minha mulher, que é assistente social, numa conversa disse-me que nos velhos a taxa de incidência do suicídio é bastante elevada, ao contrário do que eu pensava. Entretanto pesquisei um pouco mais sobre o assunto e de facto as pesquisas apontam para isso mesmo, não só há uma taxa elevada de suicídios na terceira idade, como o risco desse suicídio ser de facto consumado é mais elevado neste grupo etário. As causas estão sobretudo ligadas à depressão, isolamento social e dificuldade em aceitar limitações impostas pela condição física mais deteriorada.
Este assunto pode ser um pouco depressivo, mas é sempre melhor discuti-lo do que escondê-lo, afinal a nossa sociedade caminha a passos largos para um envelhecimento acelerado, e compreendê-lo ajuda-nos a cmpreender a sociedade em que vivemos.
Desde tempos imemoriais, os sentimentos suicidas e a sensação de desespero e falhanço, foram considerados parte integrante do processo de envelhecimento, e compreensíveis no contexto de ser-se velho e perder algumas capacidades físicas. Na Grécia antiga, toleravam-se essas atitudes extremas e dava-se aos idosos a opção de um suicídio assistido se conseguissem provar que não tinham um papel útil para a sociedade. Estas práticas baseavam-se na ideia de que assim que uma pessoa chegasse a uma determinada idade, deixariam de ter um propósito válido para a vida e para a sociedade, sendo por isso melhor que estivessem mortas. Apesar de não tão extremas, os opreconceitos de idade na sociedade moderna, sobretudo na industrializada, assentam nos mesmos princípios basilares e nas mesmas assunções.
Freud também referiu algo a este respeito, como pude comprovar em algumas páginas que visitei aquando da pesquisa sobre este tema que fiz na internet. Dizia ele (enquanto sofria de cancro incurável na boca): «Os deuses poderão ser misericordiosos quando tornam as nossas vidas cada vez mais desagradáveis consoante vamos envelhecendo. No fim, a morte parece menos intolerável que os muitos fardos que temos de carregar.»
O fardo do suicídio é muitas vezes calculado em termos económicos e, mais especificamente, em termos de perda de produtividade. Apesar das baixas taxas de suicídio finalizado nos grupos etários mais baixos, o número total de jovens que se suicida, é maior que o de idosos porque por enquanto, a pirâmide etária ainda tem na base mais gente que no cimo, na maior parte das sociedades. Os jovens também são mais propensos ao desemprego. Por isso, o custo económico do suicídio nos jovens torna-se mais evidente que nos mais idosos. No entanto, o fardo do suicídio não deve ser medido nestes termos, que são extremamente redutores, e a extensão das implicações desse fardo nas famílias e comunidades não pode ser demasiado enfatizado. Para além disso, o envelhecimento da população a nível mundial significa que o número absoluto de suicidios poderá aumentar substancialmente.
Este é um cenário cada vez mais sinistro, mas cada vez mais próximo e real. Claro que algumas pessoas mais extremistas, de extrema-direita poderão defender o suicídio dos mais velhos como forma de acabar com os não-produtivos da sociedade, mas para esses até os desempregados deveriam ser exterminados, por isso nem tenho em consideração essas opiniões. No entanto, por ser um pessimista, e por ver a situação a que este país chegou, tenho pena que nada vá ser feito para atenuar os efeitos perniciosos do suicídio no futuro dos nossos velhos, que seremos nós.
Este assunto pode ser um pouco depressivo, mas é sempre melhor discuti-lo do que escondê-lo, afinal a nossa sociedade caminha a passos largos para um envelhecimento acelerado, e compreendê-lo ajuda-nos a cmpreender a sociedade em que vivemos.
Desde tempos imemoriais, os sentimentos suicidas e a sensação de desespero e falhanço, foram considerados parte integrante do processo de envelhecimento, e compreensíveis no contexto de ser-se velho e perder algumas capacidades físicas. Na Grécia antiga, toleravam-se essas atitudes extremas e dava-se aos idosos a opção de um suicídio assistido se conseguissem provar que não tinham um papel útil para a sociedade. Estas práticas baseavam-se na ideia de que assim que uma pessoa chegasse a uma determinada idade, deixariam de ter um propósito válido para a vida e para a sociedade, sendo por isso melhor que estivessem mortas. Apesar de não tão extremas, os opreconceitos de idade na sociedade moderna, sobretudo na industrializada, assentam nos mesmos princípios basilares e nas mesmas assunções.
Freud também referiu algo a este respeito, como pude comprovar em algumas páginas que visitei aquando da pesquisa sobre este tema que fiz na internet. Dizia ele (enquanto sofria de cancro incurável na boca): «Os deuses poderão ser misericordiosos quando tornam as nossas vidas cada vez mais desagradáveis consoante vamos envelhecendo. No fim, a morte parece menos intolerável que os muitos fardos que temos de carregar.»
O fardo do suicídio é muitas vezes calculado em termos económicos e, mais especificamente, em termos de perda de produtividade. Apesar das baixas taxas de suicídio finalizado nos grupos etários mais baixos, o número total de jovens que se suicida, é maior que o de idosos porque por enquanto, a pirâmide etária ainda tem na base mais gente que no cimo, na maior parte das sociedades. Os jovens também são mais propensos ao desemprego. Por isso, o custo económico do suicídio nos jovens torna-se mais evidente que nos mais idosos. No entanto, o fardo do suicídio não deve ser medido nestes termos, que são extremamente redutores, e a extensão das implicações desse fardo nas famílias e comunidades não pode ser demasiado enfatizado. Para além disso, o envelhecimento da população a nível mundial significa que o número absoluto de suicidios poderá aumentar substancialmente.
Este é um cenário cada vez mais sinistro, mas cada vez mais próximo e real. Claro que algumas pessoas mais extremistas, de extrema-direita poderão defender o suicídio dos mais velhos como forma de acabar com os não-produtivos da sociedade, mas para esses até os desempregados deveriam ser exterminados, por isso nem tenho em consideração essas opiniões. No entanto, por ser um pessimista, e por ver a situação a que este país chegou, tenho pena que nada vá ser feito para atenuar os efeitos perniciosos do suicídio no futuro dos nossos velhos, que seremos nós.